sábado, 20 de agosto de 2011

A ordem

Hoje minha preocupação não é escrever bonito, certo, ritmado. Quero compartilhar meu sentimento aqui. Eu quero me sentir exatamente como eu me sinto agora mais vezes na vida, daqui a dias, meses, anos. Me sinto jovem, viva, alegre, feliz, radiante, tranquila. Só não mais tranquila porque borboletas inquietas voam no meu estômago e me deixam ansiosa, confusa. Uma confusão boa, que dá sede de tudo! Sede de pensar, saber, agir, sentir. Não quero conter atitudes, reprimir sentimentos, distorcer sensações. Quero exatamente isso, incessantemente, mergulhar de cabeça, profundamente, sem vacilar, sem medo, sem trauma, sem precaução. Sem medo do inesperado, do trágico, do indeterminado. Quero surpresa, satisfação. E se me machucar? E daí? Vou chorar, vou sofrer, me regenerar e me apaixonar de novo por novos cursos, atividades, lugares, músicas, cheiros, pessoas. 



Me entregar ao novo ou ao velho de forma diferente. Despertar cada músculo, osso, ligamento, fio de cabelo, pêlo que estava adormecido e que eu tinha esquecido ou nunca tinha percebido que existia. Estou entalada, freneticamente entusiasmada com cada novo momento que possa acontecer. Parece desespero, e pode até ser, mas essa ansiedade que desabrocha, que instiga, que suga minha paz cômoda, aparentemente conformada é que eu quero continuar sentindo incrustrar-se na minha pele, rasgando a passividade, a apatia. Tomar banho de chuva, dirigir num sábado fim de tarde despreocupada, ligar o som bem alto, curtir as pessoas que eu gosto, cantar, dançar. Parece descontrole pré-adolescente, mas é como se fosse, me (re)descubro, me renovo, invento. Cansada de sentir o controle, o stress, a perturbação, a auto-cobrança. Minha intensidade agora tem outro direcionamento. Me apaixonar é a ordem.

segunda-feira, 1 de agosto de 2011

Não direi adeus...

Eu passei muito tempo tentando escrever esse post, querendo comentar e descrever as reações, as expressões, os sentimentos. O fato é que a morte é certeza na vida de quem nasce, acontecimento misterioso, incompreensível, inacreditável. A morte está acima da plenitude da humanidade. O que resta para confortar as lágrimas, o vazio, o desolar, a saudade, o medo de continuar sem a pessoa que se foi, a angústia, o choro preso na garganta é saber que a dor, o sofrimento de quem estava doente, as limitações físicas, o sentimento de mãos atadas da família e dos amigos se foram, acabaram. No velório da minha tia que se foi o padre comentava sobre e dizia: "Se perguntassem a um bebê se ele gostaria de sair da barriga da mãe, do conforto e do ambiente conhecido, certamente ele responderia que não; mas chega a hora, ele nasce e chora. Se perguntassem a qualquer um aqui se gostaria de deixar essa vida, sua casa, as pessoas que ama, o ambiente que conhece e se entregar a morte, certamente responderia que não. Então encaremos a morte como um parto, como a divisão de uma estadia para outra melhor". As almas boas, Deus as quer com ele. Com fé a dor se transforma numa doce lembrança. Que Deus a tenha num lugar bem maravilhoso e que a saudade que fica nos faça ter a certeza desse lugar. O câncer não nos derrotou, a morte da minha tia e o cessar do seu sofrimento foram supremos para estar perto de Deus. É indispensável dizer que a amamos e que estamos sentindo e sentiremos sua falta. Não direi adeus porque ela continua aqui, bem nos nossos corações.